domingo, 9 de setembro de 2012

A construção do Sporting

A primeira constatação ao ver o Sporting com bola, nas duas jornadas iniciais do campeonato, é óbvia: a procura dos corredores laterais. Seja em fases precoces da construção, seja no último terço, o jogo sportinguista tem quase o mesmo destino.

Em 4x2x3x1, na 1ª fase de construção em zonas baixas, os laterais ainda dentro do seu meio campo defensivo, encontram-se um pouco adiantados em relação aos centrais, e na ausência de pressão, a bola circula à largura pela linha defensiva. O extremo baixa e tenta receber em zona interior. No espaço que o extremo deixa livre, aparecem Adrien (mais frequente) ou Wolfswinkel, em alternativa, na tentativa de aproveitar o espaço entre central e lateral. A intervenção do duplo-pivô é praticamente nula, o médio defensivo mais próximo da bola confere apoio ao lateral, enquanto o 2 encontra-se muito adiantado e fora do lance, tal como é visível nas imagens abaixo.




Adrian e Wolfswinkel não têm revelado especial apetência para este tipo de movimento. Ficam frequentemente desapoiados, e com o adversário em condições vantajosas para pressionar. Mas talvez o mais interessante seja a ausência de intervenção do duplo-pivô, o que acaba naturalmente por conferir alguma previsibilidade ao ataque Sportinguista.


Nesta imagem é Capel quem tem a bola, e acaba por procurar Adrian junto à linha lateral. Luís Freitas Lobo, que realizava o comentário para a Sporttv disse, sobre o Português "Recebe bem a bola, mas a parar o jogo. Coloca-se bem mas não dá velocidade". Até se pode concordar com a opinião de LFL, mas não parece completa. Responsabilizar Adrian é um erro. A questão é colectiva. Qualquer jogador no lugar de Adrian sentiria as mesmas dificuldades.


São claras as dificuldades que o Sporting tem em entrar no meio campo adversário neste tipo de situações. Com os extremos a não conseguem constituir-se como apoios válidos (constantemente de costas para a baliza adversária, e um mau timming de entrada no espaço interior),  uma construção mais curta torna-se uma opção complicada.

O Factor André Martins

André Martins foi utilizado  na 2ª parte dos jogos frente a Guimarães e Rio Ave. Até recuar para o duplo pivô, em Guimarães, ocupou a posição de Adrian. A dinâmica do Sporting mudou. Gelson assumiu uma posição mais fixa e recuada, tendo Elias liberdade para se adiantar no terreno, partindo de uma posição mais atrasada

Na imagem Elias vai adiantar-se, e André Martins recua para receber bola. O português não procura diagonais exteriores  como Adrian. 

Quando recuou para o duplo pivô, André Martins ofereceu maior variabilidade à equipa. Procurou conduzir bola pelo corredor central, e não se limitou a fazer circular a bola da esquerda para a direita (ou o contrário). Com André Martins em campo,os jogadores estiveram mais próximos entre si



André Martins com bola, e Gelson Fernandes mais recuado. Na 2ª imagem vê-se quer os extremos quer Labyad mais próximos do duplo pivô disponíveis para receber no corredor central, uma constante na 2ª parte contra o Rio Ave. Aliás Carrillo, conseguiu contrariar a construção lateralizada com conduções pelo corredor central, que acabaram por não se revelar mais perigosas devido às dificuldades em decidir melhor do peruano, e à falta de ajustamento colectivo da equipa.

Cruzamentos


É normal que numa equipa cujo jogo é bastante lateralizado, que os cruzamentos sejam um recurso bastante utilizado. Assim é com o Sporting, com extremos e laterais a assumirem o protagonismo, com o apoio do "10", as combinações sucedem-se, mas existe alguma incapacidade de aproveitar o espaço entre central e lateral em profundidade, acabando os cruzamentos por serem realizados na sua maioria a 3/4 de campo. 
 
Uma das poucas excepções aconteceu já perto do final do jogo em Guimarães onde Elias apareceu em profundidade, vindo de uma posição recuada

Transição Defensiva


Um dado curioso, estão em zonas de finalização, por norma, dois jogadores (ponta de lança, e extremo do lado contrário ao que é realizado o cruzamento). Este factor evidencia o cuidado com que Sá Pinto encara o momento de perda da bola, tendo quase sempre 5 jogadores atrás da linha da bola e em condições de a poder disputar. É talvez o ponto forte do Sporting, e o único que justifica a pouca mobilidade e adiantamento de Gelson e Elias na 1ª parte frente a Guimarães e Rio Ave. Com efeito, o duplo pivô Sportinguista é bastante forte na reacção à perda da bola, e algumas das melhores oportunidades de golo do Sporting tiveram origem em recuperações de bola, muitas ainda no meio campo adversário.




1 comentário:

  1. Muito bem. Continuem. Está aqui um seguidor forte. Além do mais, sou o primeiro a inaugurar os comentários. Boa sorte, continuem assim. Abraço.

    José Carlos Monteiro.

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