quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O bloco baixo do Newcastle e as dificuldades do Manchester City

O Newcastle foi das equipas que mais dificuldades criou ao Manchester City nesta temporada, e vale a pena tentar perceber como impuseram a derrota aos comandados de Pep Guardiola.

Rafa Benitez montou um 5x4x1 em bloco médio baixo com as duas linhas muito compactas. Respondeu o City, inicialmente, com De Bruyne e Silva entre as duas linhas adversárias, com os laterais a a variarem posição, ora mais dentro junto a Fernandinho, ora mais à largura, nomeadamente Danilo à esquerda, com os extremos, Sterling e Sané abertos e relativamente profundos.



Quando a bola se encontrava no corredor central, os 4 homens do Newcastle fechavam o meio, sendo a prioridade a bola não entrar entre linhas. Bom comportamento zonal que, efectivamente impediu muitas vezes a bola de entrar nesse espaço.



Mesmo quando o City conseguia fazer o passe entre linhas (com o passar do tempo, Aguero ou Sterling juntaram-se várias vezes a Silva e De Bruyne naquele espaço), o Newcastle mostrou-se muito bem preparado para esse momento. Quer porque a linha de 3 (visível na imagem acima) fazia a cobertura ao médio que saia na bola, quer pelo adiantamento de um dos elementos da linha de 5, a pressão a quem recebia entre linhas acontecia sempre. Na imagem abaixo, Aguero é solicitado e Manchester City com 3 jogadores na mesma linha (Aguero, Sterling e Silva) mas adversário muito compacto não permite que argentino prossiga entre linhas. Esta é uma questão que o City tem vindo a enfrentar, e como veremos à frente, alterou na 2ª parte.




Apesar de especialmente competente a abordagem do Newcastle não foi especialmente nova frente ao City e a equipa tem a circulação de bola preparada para enganar o adversário, ainda assim na 1ª parte levou quase sempre a melhor o Newcastle. No lance abaixo, é possível ver como o City procura explorar constantemente as costas do extremo que pressiona muito dentro, sendo esta uma resposta às equipas que fecham o corredor central com muitos jogadores. À esquerda, Laporte conduz e joga em Danilo. O posicionamento fechado de Perez (extremo) dá algum espaço para conduzir ao brasileiro, Silva e Aguero entre linhas adiantam-se, puxam linha media do Newcastle e espaço para Fernandinho receber atrás, logo com Longsttof a sair na pressão e Atsu a permanecer muito dentro (3ª imagem), que sai à pressão quando Walker recebe e a bola entra em De Bruyne nas suas costas mas tem o acompanhamento de um central da linha de 5. O posicionamento de Walker não é inocente, serve para atrair extremo adversário e colocar a bola entre linhas mas o Newcastle mostrou-se muito bem preparado para esta situação. 







Não era de todo fácil mas faltou ao City, na minha opinião, jogadores com mobilidade que variasse posicionamento nos diferentes espaços que possibilitassem baralhar a marcação. Durante 45 minutos a circulação foi demasiado rígida com a habitual estrutura de 5 atrás (centrais + pivô + laterais), dois/três jogadores entre a linha média e defensiva e dois a assegurar largura. Faltou criar dúvida ao Newcastle, ainda que mesmo dentro da referida rigidez a equipa tenha uma variabilidade de soluções para chegar à baliza adversária assinalável.

O Newcastle ao longo de todo o jogo revelou igualmente competência na forma como defendeu no último terço, nomeadamente dentro da sua área. O lance abaixo começa como tantos outros na 1ª parte, condução de Laporte à entrada do meio-campo. Danilo recebe com um pouco de espaço à largura com o apoio  de Silva no espaço interior (aproveitando as costas do extremo, Perez, muito por dentro). Na 2ª imagem é possível ver como Sané avança e permite ao espanhol receber entre linhas, mesmo quando o lateral direito, Yedlin, salta na pressão. Na continuidade, Sané recebe a bola à largura mas é possível ver como toda a equipa do Newcastle recuou para as imediações da área, fazendo uma linha de 5 jogadores e outra de 4 preparada para situação de cruzamento. Muita gente a proteger a área, e em boas condições de responder a cruzamento, foi uma das imagens de competência com que o Newcastle se defendeu nesta partida.





Mudanças na 2ª parte


Se na primeira parte as oportunidades (e o golo) do City resultaram de ataques rápidos, e durante os primeiros 20 minutos, tiveram dificuldade em chegar ao último terço, a 2ª metade trouxe algumas alterações no posicionamento e dinâmica e a equipa de Pep Guardiola ficou mais perigosa.

A distribuição inicial manteve-se mas com os médios entre linhas (e o alas) mais adiantados, fazendo baixar a linha média do Newcastle, o que permitiu a Fernandinho e aos centrais mais espaço para conduzir a bola. Logo nos momentos iniciais é possível ver a diferença (em baixo). Com Sané a ir na ruptura para fixar defesa e depois a aparecer em zonas centrais, junto a De Bruyne que também procurou fazer movimento nas costas da defesa.







Na grande oportunidade para o City chegar ao 0-2, novamente médios muito adiantados a fazer baixar Newcastle, rápida definição entre linhas, potenciada por uma novidade, posicionamento mais central de Silva, próximo de De Bruyne fundamental para fazer bola seguir nesse espaço.





Na outra grande oportunidade para fazer o 0-2 é notória a estratégia do City para a 2ª parte, nomeadamente os movimentos em ruptura dos médios quando Fernandinho tem bola, que originam arrasto da linha defensiva e depois irá a De Bruyne mais tempo e espaço para enquadrar, e claro a aproximação de Silva a De Bruyne e ao corredor direito. Foi da ligação entre os dois médios, que existiu uma vez na 1ª parte e noutras condições, que o City conseguiu criar perigo.






Já com o jogo empatado o City dispôs de uma situação possibilitada pela preocupação em fixar os jogadores da última linha do Newcastle, de forma a não pressionar imediatamente o jogador que se encontrava entre linhas. Na maioria dos casos, Sane teve um papel importante no movimento em diagonal para não fazer sair os centrais mas aqui é o posicionamento de Aguero que permite Silva em dois toques assistir o argentino




Em desvantagem o City alterou a distribuição (já com Jesus em campo) mas a falta de discernimento de quem via o título fugir fez com que as mudanças não tivessem grande efeito.

Apesar de o jogo se ter desenrolado essencialmente nas bases descritas aqui, Newcastle em bloco baixo e muita posse de bola do City, a verdade é que os 3 golos surgiram de formas diferentes (ataque rápido o golo do City, na sequência de bola parada os do Newcastle, sendo o penalty resultado de uma pressão mais alta). No entanto, não deixa de ser interessante ver como a equipa de Rafa Benitez criou muitas dificuldades ao adversário, principalmente na 1ª parte, e a resposta do outro lado, muito mais efectiva na 2ª metade