quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Bayern Munique - Dinâmica ofensiva, o jogo de Alaba




Guardiola elogiou a primeira parte do Bayern frente ao Wolfsburg e não é para menos. Os bávaros foram completamente dominadores e chegaram ao intervalo a vencer por 0-3. 
Enfoque mais uma vez para a dinâmica ofensiva pensada pelo treinador espanhol, tendo como principal atractivo os movimentos no corredor esquerdo, nomeadamente o entendimento entre Alaba (defesa esquerdo) e Conan (extremo esquerdo) que contaram ainda, por vezes, com o apoio próximo de Lewandowski. Todos os golos, mais alguns lances de desequilíbrio tiveram como premissa este ponto, até porque o Wolfsburg não se conseguiu adaptar.

O lateral austríaco começou os ataques num posicionamento normal, à largura e até relativamente perto dos centrais, à medida que os de trás circulavam bola, tinha tendência para se inserir entre linhas num espaço mais adiantado, entre o bloco adversário, sendo  Conan a assegurar largura. No espaço deixado livre pelo vulgar adiantamento de Alaba, Thiago dirigia o jogo no espaço interior, fora do bloco adversário. Por outro lado, quando o jogo se encontrava na direita e chegava à esquerda com um passe para Conan, Alaba inseria-se de trás para a frente, quer em espaço interior (mais frequente) quer em olverlap por fora a Conan, tal como no lance do terceiro golo. Com menor assiduidade, Conan procurou espaço interior e Alaba ficou a dar largura.

Ao contrário do que foi amplamente divulgado nas redes sociais, como é possível ver neste artigo do bleacher report, não creio que tenhamos assistido ao regresso do famoso 2x3x5. Desde logo, porque Lahm raramente se adiantou para espaço interior e se juntou a Alonso e Thiago, ficando esse espaço para Douglas Costa. E depois porque Alaba começou o jogo por fora e só no decorrer dos lances e conforme a existência de espaço livre se inseriu dentro do bloco adversário, Desta vez, mais do que uma alteração de estrutura é na dinâmica que deve estar o foco da análise, na minha opinião.




sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Construção, gestão entre linhas e reacção ao passe - o caso da Fiorentina


Basta ver como a Fiorentina de Paulo Sousa, actual 1ª classificada da Serie A, se dispõe em campo para perceber que a intenção do treinador português passa por ter a bola a maior parte do tempo, de preferência no meio-campo adversário com valorização do corredor central.

A ideia é interessante. 3 defesas mais duplo pivô a dirigir jogo por trás, fora do bloco adversário, Alonso e Kuba asseguram a largura, Valero e Bernardeschi entre linhas no apoio ao avançado Kalinic.

A fluidez da circulação da bola é colocada em causa, essencialmente quando entram dentro do bloco adversário (e o jogo em análise é o do Nápoles que apesar de pressionar alto com qualidade deixa algum espaço entre sectores). Quando Valero ou Bernardeschi recebem nesse espaço (mais vezes o espanhol) não têm apoio próximo. Se um recebe entre linhas, os outros dois colegas que ocupam essa zona encontram-se distantes à largura, não sendo opção, o duplo pivô também não reage, permanecendo demasiado longe e marcado para ser opção por trás. Tal como é possível ver no video o jogador a receber nessas condições foi pressionado e a Fiorentina somou perdas de bola nestas circunstâncias, até porque muitas vezes a única solução eram Kuba ou Alonso à largura

A excepção acaba por ser o golo quando Valero recebe no meio do bloco adversário, mas tem o apoio próximo de Ilicic (entretanto entrado para o lugar de Bernardeschi) e consegue dar seguimento à jogada até à finalização de Kalinic.

Referência também para a forma como a Fiorentina atacava no último terço, com o duplo pivô com bola os 3 da frente encontravam-se permanentemente encostados à linha defensiva adversária, o que mais uma vez, fazia com que a procura de colega para dar seguimento ao lance fosse feita para quem estava à largura.

Não retirando o mérito à equipa de Paulo Sousa, penso que estes aspectos podem ser revistos num futuro próximo, nomeadamente aproximar e fazer com que os jogadores entre linhas joguem entre si. Quando a bola entrou em Valero, Kalinic e Bernardeschi permaneceram estáticos, não reagindo ao jogo, tal como Badelj e Vecino. Outra opção pode passar pela inserção de trás para a frente, sem bola, de um dos jogadores do duplo pivô com maior regularidade

(Errata: no video, existe uma troca de nome. Onde se lê Veccio, o correcto seria Vecino) 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Feder Fernández - Como Pode Um Central Desequilibrar



O lance acima é referente ao primeiro golo do Swansea frente ao Tottenham no seu último jogo. A situação é aparentemente normal. Os centrais dos Swans são pressionados próximos da sua área pelo avançado e 10 dos spurs e quando a bola entra no lateral é Chadli o extremo que sai à pressão. A novidade começa aqui. Feder Fernández, central argentino sai da sua posição e movimenta-se para a frente da linha da bola conferindo linha de passe à largura. O Tottenham reage com Dier a sair à pressão, mas restante linha média não baixa e quando a bola entra entre linhas em Ayew a linha defensiva Spur encontra-se exposta.

Este movimento de Fernández não parece ser procurado com frequência pelo Swansea mas não deixa de ser interessante que o jogador tenha deixado a habitual postura de dar solução por trás ao lateral, sendo decisivo no desequilíbrio causado

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Manchester United e Nápoles - Como condicionar 1ª fase de construção adversária




Existem semelhanças e diferenças na estratégia de Nápoles e Manchester United para os jogos de domingo, naturalmente com conclusões diferentes, bem como os respectivos resultados, mas o princípio pareceu ser o mesmo, direccionar o  jogo para o corredor central.

O Manchester United optou por descair o avançado Martial para a direita e a partir daí pressionar o central que enfrentava directamente, Gabriel Paulista. À esquerda, Depay (extremo) adiantava-se para sair a pressionar Mertesacker condicionando pela orientação do seu corpo o passe para o lateral. Rooney e Schweinsteiger tinham como objectivo bloquear o duplo pivô, Carzola e Coquelin. É verdade que a estratégia resultou a espaços, mas pareceu apresentar algumas vulnerabilidades. 

Desde logo a forma recorrente como o Arsenal conseguiu jogar no espaço das costas de Depay, normalmente através de procura de jogo interior, condicionado, para depois libertar no lateral que se tinha adiantado. Isto fez com que Bellarín enfrentasse Young em algumas situações de 1x1. Passada a primeira fase de pressão, o Arsenal conseguiu jogar com alguma facilidade até porque o espaço central à frente da linha defensiva (que baixava bastante) acabou por ser negligenciado entrando a bola com alguma facilidade de fora (à largura) para dentro do bloco do United, até porque Carrick, o pivô se encontrava longe da restante equipa. Outro aspecto que baralhou a estratégia do United acabou por ser os recuos de Ramsey (extremo) e Ozil (10) que garantiram alguma superioridade no meio ou então levavam ao arrastamento de Carrick.

Em Itália, o Nápoles optou por colocar Higuaín a bloquear a linha de passe entre os centrais, com os extremos, quando a bola entrava no central do seu lado, a sair à pressão e a bloquearem linha de passe para lateral. Em comparação, pareceram mais preparados que o United para o espaço nas costas de Calléjon e Insigne (os extremos) com toda a equipa preocupada em ocupar essa zona onde, naturalmente pela forma como condicionaram, a bola acabou por cair (nota para a disponibilidade dos dois interiores em perceberem este momento, Hamsik e Alan). Aliás é de uma recuperação assim que nasce o primeiro golo. Quando os médios do Milan recuavam para fora do bloco eram os dois interiores que saíam à pressão, condicionando também a acção de Montolivo (pivô)

Outra diferença para o que aconteceu em Londres prende-se com o comportamento da linha defensiva. Constantemente subida e com o lateral a adiantar-se para ocupar espaço deixado pelo extremo, se necessário.  Dificuldade esporádica em controlar jogo directo do Milan, quer quando bola caiu à profundidade no espaço entre central e lateral, quer para o meio batendo os dois interiores, fazendo com que o Milan conseguisse ganhar sistematicamente a 2ª bola pela superioridade numérica. Nota para o controlo de profundidade da linha defensiva napolitana que evitou males maiores

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Barcelona - Distância entre jogadores e gestão da profundidade


Apesar de manter níveis consideráveis de posse de bola, parece pertinente dizer que o Barcelona de Luís Enrique está distante daquilo que era a equipa com Guardiola ou Villanova, quer pelas ideias quer também por boa parte dos protagonistas terem um perfil diferente dos seus antecessores. 

Na passada terça-feira frente ao Bayer Leverkusen a dificuldade em entrar no bloco alemão e chegar ao último terço foram evidentes durante boa parte da partida. A questão que me parece mais premente no Barcelona é a grande distância entre os seus jogadores que, apesar de pontualmente trazer algumas vantagens, impediu maior envolvimento e combinações num futebol curto e apoiado próprio do clube.

Os dois interiores, Iniesta e Rakitic começaram muito profundos e distantes entre si, quase sempre no espaço entre linhas. Estes movimentos acabavam por fazer recuar um pouco a linha média adversária, dando espaço a Pique, Mascherano e Busquets (que por vezes ficava junto dos centrais formando linha de 3) para progredir, mas retiraram alguma capacidade de atrair os médios do Leverkusen que por esta altura se sentiam muito confortáveis na partida.

Os 3 jogadores da frente, Suarez, Neymar e Ramírez, permaneceram muito profundos e abertos, participando pouco na construção em zonas precoces. Pontualmente baixavam para o espaço entre linhas mas sem grande sucesso. Aliás, este foi um dos pontos mais frágeis do Barça, quem recebia a bola entre linhas não tinha apoio próximo dada a distância entre jogadores. Quando a bola entrava dentro do bloco adversário, quase sempre os da frente procuravam profundidade, sendo o portador da bola "convidado" a fazer passe para as costas da defesa.

Última nota para a circulação de bola no meio-campo adversário, com todos os jogadores do Barça a procurarem movimentos à frente da linha da bola (Mathieu e Iniesta a juntarem-se aos 3 da frente) com o portador a não ter linha de passe próxima, restando centrais e Busquets atrás da linha da bola.

Este forçar da profundidade deu vantagem pontual ao Barça, porque causou alguma dúvida às linhas do Leverkusen mas a fluidez da circulação de bola saiu comprometida. Naturalmente foi mais fácil aos alemães saírem em contra-ataque, dada a dispersão pelo campo dos catalães no momento da perda




Na 2ª parte, o Barça modificou alguns aspectos. Os laterais projectados mais cedo e mais profundos, fizeram com que bloco do Leverkusen recuasse um pouco. Neymar permanentemente entre linhas, ainda que nem sempre devidamente apoiado e com as decisões mais ajustadas. Ramírez e Suarez profundos mas sem dar largura, no corredor central, também arrastaram a linha defensiva alemã

Mesmo tendo conseguido passar mais tempo no meio-campo adversário alguns problemas da primeira parte mantiveram-se como o pouco apoio a quem se encontrava entre linhas ou a dificuldade em dirigir jogo através de trás com a reduzida participação dos interiores.

As coisas só melhoraram verdadeiramente quando o Barça passou a tentar variar o corredor de jogo mais rapidamente, colocando muitos jogadores em zona de finalização para jogadas que acabaram com cruzamento para a frente da linha defensiva alemã. Foi esta a base da superioridade catalã que até resultaram em golo.






Por fim, e como o futebol está longe de ser linear, deixo alguns lances que acabam por contrariar o que acabei de escrever acima. É visível como os comportamentos são diferentes. Vemos Suarez a sair como apoio no momento certo e não a procurar profundidade quando colega recebe bola entre linhas ou como a grande profundidade dada causou dificuldades de ajuste ao Leverkusen que permitiram ao Barça, com Iniesta a receber entre linhas com o apoio de Neymar, chegar ao último terço com relativo perigo