O Manchester United é de momento a segunda melhor defesa em Inglaterra com 23 golos sofridos em 31 jogos. A equipa de Mourinho tem a particularidade, no meu entendimento, de ser forte a defender próxima da sua baliza contrariando algumas ideias que se têm acertadas quando pensamos em comportamentos defensivos, sendo esse comportamento em bloco baixo o mais recorrente nos jogos "grandes"
Analisando a forma como o United travou o Liverpool em Old Trafford há umas semanas podemos ver que nada é deixado ao acaso e há uma intenção na forma como a equipa se dispõe no campo. A preferência é pelo risco zero na profundidade com a linha defensiva a baixar sempre que necessário e a sentir-se confortável no seu meio-campo defensivo, sendo a equipa construída a partir deste principio.
A primeira "novidade" é desde logo a distância entre Alexis Sanchez e Lukaku com o resto da equipa. Com relativa facilidade o Liverpool ultrapassou a linha de pressão composta pelos dois jogadores. Na imagem é Roberto Firmino que vem receber, Sanchez sai na pressão mas a bola entra nas suas costas em Milner que facilmente recebe e enquadra para a baliza de De Gea já no meio-campo ofensivo.
A partir daqui o United fica momentaneamente a defender com 8 jogadores, (Alexis vai recuando mas nem sempre de forma rápida) mas também por questões estratégicas não tem uma grande protecção perante a linha média do Liverpool, isto devido ao posicionamento dos extremos, Mata e Rashford preocupados com a marcação individual aos laterais do Liverpool ficam mais abertos, restando Matic e McTominay para cobrir um espaço relativamente abrangente. Na imagem Mané recebe bola de frente para linha média e é possível verificar o espaço entre alas e médios centro é considerável.
Como seria de esperar o Liverpool por várias vezes conseguiu colocar a bola no espaço entre defesas e médios e também em espaço interior entre ala e médio, à direita e à esquerda, e para mim é aqui que reside o principal mérito da construção defensiva de Mourinho. Estes espaços são procurados por quem ataca, uma vez que, são considerados os mais favoráveis para desequilibrar o oponente, nomeadamente se quem aí recebe a bola está enquadrado para a baliza adversária. No caso do Manchester United é aí que recuperam muitas boas e começam verdadeiramente a tentar roubar. E surge a clara distinção entre fazer a bola chegar entre linhas/espaço interior e jogar a partir daí.
No seguimento do lance anterior, Oxale-Chamberlain com à vontade faz passe entre linhas para Milner somente com os dois médios centro do United no corredor central na zona média. Por outro lado, a linha defensiva está junta com Rashford e Mata a assegurarem o controlo da largura. Assim que a bola entra em Milner, Smalling sai à pressão e até acaba por ganhar o duelo (2ª imagem). Quando o central inglês sai para pressionar imediatamente Matic junta-se aos defesas para não enfraquecer a linha defensiva num movimento típico do United. A ideia parece ser pressionar de trás para a frente quem recebe entre linhas, em zonas interiores pode sair o lateral (quase sempre ao extremo que vem dentro) com um dos médios a compensar a ausência. Desta forma e com a proximidade dos restantes elementos o Manchester United consegue aqui criar superioridade numérica e acabar com os ataques adversários.
Neste exemplo, com a bola no lateral do Livepool na primeira imagem é possível ver as marcações individuais do United, o defesa esquerdo Young adiantado com Salah e um espaço entre central e lateral considerável onde a bola acaba por cair. Oxale-Chamberlain faz a diagonal e recebe bola libertando-se da marcação inicial de McTominay. É Smalng quem vai ao corredor lateral impedir a progressão e o médio escocês do United baixa para junto da linha defensiva (com Young também a dar cobertura).
Na segunda imagem vemos Salah a entrar de trás para a frente num movimento que é acompanhado pelo jogador que está mais próximo de si, Matic. A bola vai de fora para dentro e após um primeiro passe entre linhas de Milner que é interceptado, Robertson descobre Firmino entre linhas, quando o brasileiro recebe Bailey sai à pressão, ao contrário do habitual nenhum dos médios está por perto com a linha defensiva longe e há uma situação de 1x1 no corredor central, o brasileiro passa pelo central mas com a linha defensiva compacta acaba por rematar de longe. Um passe complicado para Robertson talvez tivesse sido a melhor opção. Para este espaço ser aproveitado McTominay foi arrastado por Milner de dentro para fora e Matic foi muito cedo para junto da linha defensiva após ter acompanhado Salah deixando um espaço grande à frente da defesa
Aqui Emre Can faz passe vertical entre linhas para Mané que recebe e enquadra com facilidade no espaço entre médio e ala do United. Desta vez nenhum elemento da linha defensiva sai à pressão porque os dois médios estão próximos e fazem com que o senegalês fique em inferioridade numérica no corredor central e acabe por perder a bola.
Mesmo quando o Liverpool fazia uso da largura e conseguia procurar o corredor contrário, os princípios do United mantinham-se. Neste caso, a bola está no lateral esquerdo que procura o corredor central e chega até Firmino que com espaço para conduzir (2ª imagem) descobre Oxale-Chamberlain no espaço interior de frente para De Gea. Smalling sai à pressão e acaba por bloquear o remate.
Esta organização do Manchester United valeria de pouco se a resposta a cruzamentos não fosse a melhor. Mas também aí mostram estar preparados. Aqui, Valência e McTominay indecisos sobre quem pressiona entre linhas dão espaço a Mané para definir e Robertson ganha as costas a Mata. Cruzamento rasteiro com a linha defensiva do United a acompanhar (preocupação de Smalling em não deixar Firmino solto na segunda linha) e Young acaba com o lance.
Finalmente outro aspecto a ter em conta no Manchester United é a forma individual e competente como defendem as bolas para as costas da linha defensiva na tentativa de o adversário ficar isolado perante De Gea. Normalmente há sempre alguem a acompanhar quem faz a desmarcação, sendo que, os restantes elementos aproximam de forma a criar superioridade numérica e a neutralizar o lance.
Este é um aspecto particularmente importante porque como o Manchester United concede tempo e espaço em zonas já propicias ao lançamento deste tipo de bolas os seus defesas têm de estar preparados para este tipo de situação. No exemplo abaixo, Firmino com espaço lança em Salah, na primeira imagem já Young acompanha o argelino, depois é possível ver como os restantes defesas ajudam o companheiro criando superioridade numérica e acabando com o lance.
Na minha opinião, fica evidente que o Manchester United apesar de ter várias particularidades na forma como defende consegue neste aspecto atingir os seus objectivos. A disposição neste jogo também é consequência da forma de atacar do Liverpool onde são os laterais que asseguram a largura ofensiva e os três da frente jogam muito por dentro, acabando a equipa por se mover a partir daí. Ao contrario de algumas opiniões para mim é claro que o United é competente a defender em bloco baixo e o facto de contrariar algumas ideias feitas sobre os comportamentos a ter nesta situação devem ser motivo de reflexão e não de critica. Todas estas condicionantes tornam o jogo com o Manchester City do próximo fim-de-semana muito interessante de seguir.
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