quinta-feira, 12 de abril de 2018

Manchester City vs Liverpool - Abordagens e estratégias

Após a derrota na semana anterior por 3-0 era expectável que Guardiola surgisse com novidades para o jogo da segunda mão e assim foi. O catalão abdicou da linha de 4 defesas, passando para 3 com De Bruyne e Fernandinho a jogarem na posição de pivô, mais Silva e Sterling entre linhas. Bernardo Silva e Sané asseguravam a largura com Jesus na frente.

Na imagem podemos ver o 3+2 do Manchester City na construção. O plano parecia fazer chegar a bola às costas da linha de 3 avançados com que o Liverpool pressionava alto, e De Bruyne ou Fernandinho a receberem de frente para a baliza adversária e com algum espaço para conduzir, objectivo conseguido na primeira parte em diversas ocasiões (e sempre que Ederson repunha rapidamente a bola, após o Liverpool jogar longo, não estando os 3 avançados devidamente posicionados). A ideia era aproveitar uma superioridade numérica nessa zona do terreno. Porque se aos 3 defesas correspondiam 3 avançados contrários, no meio De Bruyne, Silva e Fernandinho tinham vantagem sobre Milner e Oxale-Chambarlain, já que, o pivô Wijnaldum raramente se adiantava na pressão.

Na primeira imagem é possível ver o inicio da jogada com Otamendi como portador da bola, conduz e atrai Firmino antes de libertar para Walker. Quando a bola regressa a Ederson já os 3 avançados do Liverpool se adiantaram e há espaço para jogar nas suas costas, aproveitado por Laporte (por dentro e bem recuado) para fazer passe para as costas dos adversários, segunda imagem, com Fernandinho a ter espaço para receber e conduzir, também devido ao posicionamento adiantado de Silva que fixa Oxale-Chambarlain





Com os 3 defesas várias vezes em zonas interiores na construção, o City teve de encontrar soluções à largura para dar seguimento ao seu jogo em fases precoces da construção. Uma nuance utilizada, além do natural e rotineiro recuo de Bernardo Silva ou Sané, foi De Bruyne a descair para a direita. Na primeira imagem Walker conduz de fora para dentro, arrasta Mané e abre espaço para De Bruyne descair para a direita e receber bola com espaço, porque Milner não acompanhou movimento do belga. 





O City além da habitual redundância também utilizou a largura para chegar ao meio-campo adversário, ou teve como ponto de saída da redundância a largura, como se preferir. Com os externos a receberem a bola em zona recuada, nem sempre os laterais do Liverpool arriscaram na saída à pressão e mesmo quando isso aconteceu raramente foram efectivos. Com os 3 avançados subidos e os médios muitas vezes a cobrirem zonas laterais, o Liverpool optou por não expor a linha defensiva, e preferiram recuar assim que o adversário tinha espaço para progredir, quer no meio como já vimos, (raramente Wijnaldum saltava à pressão em zonas adiantadas que podia provocar a saída de um dos centrais para o mesmo efeito) quer nas laterais. Na primeira imagem, a parte final da circulação do City com Laporte a procurar Sane que recebe com espaço. Na segunda imagem, Sane conduz com o pormenor do posicionamento de Silva arrastar Arnold e Oxale-Chambarlain.





O Manchester City conseguiu assim chegar com regularidade ao meio-campo, e até ao último terço do Liverpool. E a partir daqui? Importa primeiro entender que chegavam com o Liverpool a recuar e num primeiro momento a defender com 7 ou 6 jogadores, pois os 3 avançados ficavam para trás fruto da pressão, ainda que recuassem como podiam, podendo eventualmente ficar um mais adiantado. 

O City optou por procurar muito o corredor esquerdo, não raras vezes forçando a entrada por aí. Quer com combinações entre Silva e Sane, ainda que bem feitas,  as condições para o sucesso nem sempre fossem as melhores. Ocasionalmente, Sterling juntava-se à esquerda numa posição mais adiantada e interior, para criar superioridade sempre com Laporte como apoio por trás, e pronto a vigiar Salah quando necessário no momento de transição defensiva. A verdade é que estas combinações à esquerda quase sempre acabaram em cruzamento tendo Jesus, Sterling, caso não participasse na combinação, Bernardo na área (com o português não raras vezes longe de ser opção viável para finalizar, demasiado aberto)  apesar de assustar a defesa red pela proximidade à baliza raramente foram bem sucedidas. A direita era procurada através de passe na esquerda para mudança de corredor mas não foi algo frequente na primeira parte

Na primeira imagem Sane recebe à largura somente com a linha defensiva pela frente mas com a linha média red próxima. Conduz para dentro e Silva vai nas costas com o lance a perder-se quando o alemão procura entregar a bola no espaço entre central e lateral.





No lance abaixo, Sane recebe à largura, novamente a preocupação de alguém (no caso Jesus) de dar profundidade e ajudar a arrastar linha defensiva contrária. Após uma tabela com Silva, Sane volta a procurar o espanhol no espaço entre central e lateral mas Mané acompanha e controla o lance





Nas combinações com Sterling, também foi visível que a equipa forçava pelo lado esquerdo, o Liverpool prevenido raramente deixou de criar superioridade. Sterling começou no meio no meio, variou entre ser apoio frontal, tentar a ruptura em espaços interiores entre central e lateral ou conseguindo, como no exemplo abaixo, conduzir a bola de frente entre linhas à esquerda, sendo que, também apareceu várias vezes à direita em espaço inteior e em ruptura. Aqui, o inglês recebe o passe de Jesus e enquadra com a baliza, vai procurar Silva e perde a bola, sobrando para Sane à largura que faz um mau cruzamento Mais uma vez, os jogadores do City carregavam no corredor esquerdo, mesmo sem fazer circular a bola pelos outros dois corredores. Evidentemente existiram lances que o corredor direito e central foi utilizado mas foram várias as perdas de bola nesta situação. Mesmo quando criavam condições para o cruzamento, mais atrasado ou junto à baliza,  presença na área raramente foi a melhor.





O lance que acaba por marcar a partida, e talvez também a estratégia do Manchester City para a segunda parte, é o golo anulado a Sané perto do intervalo. A bola começa na direita, viaja até à esquerda mas Sane à largura, em vez de procurar Silva, devolve ao meio em De Bruyne que lança picado para a área. Como veremos à frente, o City voltou a tentar esta situação na segunda parte. Para mim, de forma adequada, pois ali, os médios do Liverpool não pressionam, já que, foram arrastados pelos movimentos em profundidade dos citizens.





O domínio do Manchester City no primeiro tempo, e já agora parte do declínio na segunda, deveu-se igualmente à transição defensiva. À esquerda Laporte controlava Salah e Otamendi o corredor central pronto a descair para a esquerda. A estratégia do Liverpool passava essencialmente por procurar a referência central num primeiro momento que lançasse bola em profundidade ou servisse como apoio frontal para um segundo jogador arriscar o passe longo, a maioria das vezes para Salah. Os reds conseguiram sair por duas ocasiões para o contra-ataque, criando uma grande oportunidade de golo, mas de resto, não atingiram os seus objectivos. A sub-estrutura composta por Otamendi-Laporte-Fernandinho e mais um médio com Walker também sempre atento conseguiu sair imediatamente à pressão após perda no último terço, e a juntar a alguma falta de critério red, controlou o jogo. Na imagem, após cruzamento de Sané e respectivo corte, a bola sobra para Mané que procura imediatamente a profundidade em Salah, o lance acaba por se perder com Laporte a controlar






Na segunda parte as bases do jogo mudaram porque as estratégias, mas não só, dos dois treinadores foram diferentes. Guardiola optou por abrir Walker mesmo na primeira fase de construção e Fernandinho ficou de forma mais declarada ao lado de Otamendi, isto fez com que Bernardo Silva estivesse mais adiantado logo numa fase inicial com De Bruyne a ficar mais vezes com único pivô. Mas, quanto a mim, aquilo que marca a segunda parte do City, até ao golo de Salah, é uma maior precipitação na construção, nomeadamente do portador da bola à qual não é alheia o maior protagonismo de Walker na construção, e a tentativa de replicar aquilo que foi o golo anulado a Sané no primeiro tempo (em 10 minutos tentaram duas vezes). Nas imagens, é possível ver como o lance começou na esquerda, foi à direita, voltou à esquerda e finalmente acabou com De Bruyne a solicitar Sané nas costas da defesa, com espaço e sem a oposição directa de um jogador Red.





No outro exemplo, uma combinação à direita entre Bernardo Silva e Walker (na parte final) em que o inglês faz passe e ao avançar arrasta dois jogadores contrários, permitindo a Bernardo Silva ir para dentro e procurar Silva ao meio que com espaço procurou as costas do Liverpool e Sane que se não começa o movimento dois passos ao lado fica em boas condições para criar desequilíbrio 






Estes dois lances, apesar de positivos, foram o melhor que o City fez até ao golo do Liverpool. De resto muitas perdas de bola e precipitação. Não ajudou os jogadores da frente pedirem constantemente em profundidade e como referido acima as escolhas muito discutíveis de quem tinha bola. Na imagem, Walker ainda numa fase precoce da jogada tenta fazer um passe vertical interceptado por Milner, além do jogador Red, os seus colegas estão marcados e esta acção tinha poucas hipóteses de sucesso. É um bom exemplo da precipitação do City



Por outro lado, os reds vieram diferentes para a segunda parte, com mais vontade de ter bola. A equipa mudou e Firmino passou a estar permanentemente na esquerda aberto, desde logo foi uma linha de passe a aproveitar o espaço entre Walker e Bernardo, fazendo alargar no campo a linha defensiva contrária. Mané no meio serviu de apoio frontal com Salah também em zonas centrais. Nas saídas de bola, tentaram, e conseguiram, aproveitar o espaço entre linhas, podendo sair a jogar curto mas com os centrais a jogarem longo estando a equipa melhor preparada para ganhar a segunda bola. Silva e Sterling, os médios contrários, na pressão alta não chegavam a tempo de após o jogo longo disputar bola com os médios Reds, sendo que, a linha defensiva do City estava presa aos 3 da frente do Liverpool. Na imagem, Sané sai ao central que joga longo, é De Bruyne quem cabeceia mas  Milner e Oxale Chambarlain mais próximos ficam com a bola. (Milner ganha bola e procura o lateral esquerdo à largura e não os 3 da frente numa clara intenção de ter a bola)




A transição ofensiva e momentos seguintes deixou de procurar imediatamente a profundidade mas antes a largura no lado contrario, talvez com o intuito de acalmar o jogo e não perder logo de seguida a bola. Na imagem, momento de recuperação, Mané não procura jogadores da frente mas colega mais próximo que entrega à largura em Milner, prolongando assim o tempo em posse





A verdade é que não sendo tão vertical na transição ofensiva, o Liverpool conseguiu colocar o Manchester City desconfortável e a cometer vários erros na hora de defender, o que provocou desconforto. Curiosamente o golo do Liverpool tem tudo aquilo que parece ter sido definido por Klopp ao intervalo (num lance em que ficam com a bola mais de um minuto) Na primeira imagem, van Dijk ganha bola e procura Milner, que sem pressa joga em Salah como apoio frontal(2ª), e o egipcio com o apoio de Mané faz a bola chegar à esquerda com ligação entre lateral e Firmino aberto (3ª). Circulação continua com Milner a receber à largura na direita (4ª) (Salah e Mané no meio, largura varia entre médio e lateral). Bola regressa atrás até guarda-redes (5ª), bola novamente na esquerda, ligação entre Robertson e Firmino (6ª) que atrai City quando bola volta a zona interior em Wijnaldum que ultrapassa Sterling (7ª) e faz passe entre linhas para Chambarlain (8ª). Na frente e na zona central Salah e Mané  recebem bola e concluem a jogada em golo (9ª).



















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