Portugal e as dificuldades no jogo de criação
Frente à Áustria Fernando
Santos em comparação com o jogo anterior retirou um médio, João Mário, e lançou
um extremo, Quaresma, mas os problemas perante uma defesa recuada e compacta
mantiveram-se.
Na partida de sábado
enfrentando a postura expectante da Áustria que defendia com duas linhas de 4
no seu meio-campo, Portugal viu-se obrigado a assumir a posse de bola. Com Nani
preferencialmente no meio, os extremos Ronaldo, à esquerda, e Quaresma à direita
(ainda que pontualmente fossem trocando com Nani também a aparecer nos
corredores laterais) começaram por dar largura ao ataque e a receber bola junto
à linha lateral e à medida que o jogo avançava foram cada vez mais procurando
espaços interiores, permitindo o adiantamento mais frequente dos laterais
Vieirinha e Guerreiro. No meio-campo, a William Carvalho a dirigir jogo atrás
juntava-se André Gomes mais pela esquerda, enquanto que, Moutinho à direita
tinha tendência para progredir juntando-se aos jogadores da frente, acabando
por arrastar marcação e permitindo que o central do seu lado, Pepe, tivesse
espaço para avançar com bola e assumisse um papel de destaque na construção de
jogo (aspecto em que não esteve feliz não conferindo fluidez à circulação somando
perdas de bola). Na segunda parte foi André Gomes que se adiantou mais vezes à
esquerda, permanecendo Moutinho recuado.
Pese embora, Portugal
tenha feito o suficiente em termos de oportunidades de golo para vencer o jogo,
continuam evidentes algumas dificuldades em criar perigo. Quaresma e Ronaldo
quando iam para espaços interiores limitavam-se a jogar de costas para a baliza
adversária e a devolver ao apoio frontal, dificilmente recebiam, ou procuravam
receber, bola entre linhas recuando até à linha média austríaca tocando a bola
para trás. O avanço de João Moutinho permitiu a Pepe espaço para construir mas
também raramente conseguiu receber a bola no meio, dentro do bloco adversário,
isto fez com que Portugal chegasse ao último terço essencialmente pelos
corredores laterais, nomeadamente através de variações de corredor através de
passes longos onde William Carvalho se destacou. Quando a bola se encontra nos
jogadores de trás (médios e defesas) existe a preocupação de existir movimentos
de aproximação ao portador da bola, mas o mesmo não acontece quando a bola
entra entre linhas, sendo que quem recebe nessa zona só esporadicamente
consegue fazê-lo de frente para a baliza adversária e continuar a progredir.
Desta forma, e para chegar
perto da baliza austríaca a Portugal restou o bom envolvimento de Raphael
Guerreiro pela esquerda e vários cruzamentos onde a selecção consegue colocar
um número considerável de jogadores zona na área para finalizar mas os defesas
adversários foram quase sempre mais fortes.
Nota final para a boa
reacção à perda da bola. Portugal raramente permitiu contra-ataques
adversários. Mérito dos médios que se encontravam atrás da linha da bola no
momento da perda, ainda que João Moutinho e William Carvalho pela forma como
escolheram o timming para pressionar, distinguindo as situações onde podiam
desarmar ou simplesmente temporizar acção do adversário, mereçam especial
destaque.
A
evolução de Cristiano Ronaldo
Cristiano Ronaldo alcançou
o estatuto de um dos melhores jogadores do mundo nos últimos anos
essencialmente por aquilo que fazia (e faz) no último terço do campo. Partindo
preferencialmente da esquerda é muito forte a definir próximo da baliza
adversária, de trás para a frente, sendo que, aparecia mais do que estava em zonas
de finalização e no corredor central. Nos últimos tempos cada vez mais Ronaldo
é visto com maior frequência no meio, e no caso da selecção, em zonas até
bastante recuadas. Sendo a evolução natural num jogador das suas
características, Cristiano ainda parece longe da excelência nas suas novas
funções. A pressão é feita com mais jogadores e o tempo para decidir escasseia,
e terá de ajustar o perfil de decisão quando tem a bola, nomeadamente o timming
em que a solta. Nem sempre equaciona o envolvimento com os colegas e força
demasiado a finalização, não sendo nessa zona tão profícuo como uns metros mais
à frente.
(Texto originalmente publicado no Jornal Único)
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