Normalmente equipas grandes são as que lutam pelo título e assentam o seu jogo em duas premissas, que estão interligadas, fazer com que o jogo se desenrole durante boa parte do tempo no meio-campo adversário e ter uma reacção forte à perda da bola que, precisamente, impeça o opositor de chegar à sua área.
No jogo frente ao Arouca, o Benfica teve um volume de jogo assinalável e facilmente o resultado poderia ter sido outro, no entanto, ficaram evidentes as dificuldades no momento de perda de bola, obviamente relacionados pela forma como a equipa ataca. E se é verdade que os encarnados passaram boa parte do tempo no meio-campo arouquense (domínio consentido) não é menos real que a equipa de Lito Vidigal causou sistematicamente problemas em contra-ataque. E quem quer ser grande mesmo com domínio territorial não pode "pôr-se a jeito" tantas vezes...
A questão da transição defensiva do Benfica começa quando têm bola (como quase sempre). Os 4 jogadores da frente, Ola John, Gaitan, Jonas e Mitroglou parecem dar profundidade muito cedo, estão sistematicamente entre linhas, o que por um lado dificulta a fluidez do jogo ofensivo, com a equipa distante a atacar, e por outro faz com que sejam rapidamente batidos no momento da perda de bola.
Pizzi e Samaris ficam responsáveis por um espaço muito vasto. Andaram constantemente indecisos entre sair a pressionar (e por vezes fizeram-no demasiado tarde com reacção lenta à perda) ou esperar e juntar à linha defensiva. A verdade é que o Arouca, também por inquestionável mérito próprio, conseguiu sair quer pelo corredor central, quer pelos extremos aproveitando o adiantamento de Eliseu e Nelson Semedo
Para terminar, uma das principais diferenças em relação aos últimos anos. O comportamento da linha defensiva. Desde logo muito condicionada pela acção do avançado Roberto que ao dar o máximo de profundidade possível "convidou" os centrais benfiquistas a recuar, algo difícil de imaginar há poucos meses atrás. Os defesas benfiquistas preferiram quase sempre baixar do que retirar espaço e jogar com o fora-de-jogo e quando assim não foi a indefinição foi visível e o Arouca conseguiu expor as costas da linha defensiva.
A época será longa e é prematuro retirar grandes conclusões pelo que aconteceu nos primeiros dois jogos do campeonato. Ainda assim não deixam de ser sinais preocupantes as dificuldades que o Benfica teve para se impor no jogo com o Estoril, que adoptou uma postura mais pressionante e com bola durante mais tempo, e agora em transição defensiva frente ao Arouca que baixou o bloco. Mas como se escreve numa análise lúcida no jogodirecto falta saber se o Benfica melhorará e terá a consistência suficiente para garantir um elevado registo pontual semelhante a épocas recentes