terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Manchester City e a distribuição frente a blocos baixos

O Manchester City pese embora a época brilhante que tem vindo a fazer, demonstra algumas dificuldades contra equipas que juntam muito as suas linhas em bloco médio-baixo. Foi assim contra  o Huddersfield, Southampton, a primeira parte frente ao West Ham e agora no último jogo com o Bournmouth (em Old Trafford a estratégia de Mourinho foi diferente e com algumas especificidades).

Se olharmos ao jogo com Southampton, West Ham e Bournmouth a disposição do City foi a mesma. Os dois médios interiores, Silva e De Bruyne, permanentemente entre linhas, os extremos a conferir largura, ficando os laterais ligeiramente por dentro e o avançado a ter igualmente liberdade para baixar e ser apoio. Obviamente que há a juntar a esta distribuição a paciência com que fazem circular a bola e o consequente seguimento, com tentativas de entrar ora com combinações nos corredores laterais (mais frequente frente a West Ham e Bournmouth) ora mais pelo meio (Southampton) e sempre que possível com passe para costas da linha defensiva.

Na imagem é possível ver De Bruyne e Silva entre linhas, a largura dada pelos extremos. Neste lance Aguero irá baixar e Silva entra na profundidade fazendo baixar a linha defensiva adversária.




No meu entendimento esta distribuição não é especialmente feliz. Guardiola enfatizou a necessidade de melhorar no sentido de criar mais oportunidades de golo e a verdade é que o Bournmouth controlou o jogo na primeira parte durante grande parte do tempo. Com os interiores a começarem a construção entre linhas  e a recuarem apenas pontualmente para tocar a bola e voltar torna-se mais fácil ao adversário, se compacto, controlar quem lá está, isto porque com os dois extremos a darem largura e profundidade os laterais também não avançam no terreno. Paradoxalmente, e apesar de ter constantemente dois ou três jogadores naquela zona não consegue jogar nesse espaço. O objectivo podia passar por criar situações de 1x1 ou de superioridade numérica nos corredores laterais para cruzamento com muita gente na área por motivos relativamente óbvios não é isso que acontece. A equipa fica assim dependente de algumas combinações nos corredores laterais com dinâmicas existentes desde o inicio como Silva a entrar no espaço entre central e lateral e Sané à largura ou a procura no momento certo do passe para as costas da linha defensiva. 

Em suma, falta capacidade de criar dúvida no adversário para conseguir progredir, facto a que também não é alheio 4 jogadores estarem em permanência no corredor lateral (laterais + extremos) e dois entre linhas numa estrutura relativamente rígida, pese embora, algumas variantes que são utilizadas à medida que a bola circula.

Este tipo de distribuição tem também outra consequência interessante. Com os médios avançados e a fazerem recuar, ainda mais linha média, é Otamendi quem assume e dirige muitas vezes a construção fora do bloco, como é possível ver na imagem. Não colocando em causa a qualidade do argentino, acredito que o jogo do City ganhe mais se Silva ou até De Bruyne (como se viu na segunda parte frente ao West Ham) possam ficar de frente para a baliza adversária mais cedo e um pouco mais recuados.

Frente ao West Ham, e a perder ao intervalo, Guardiola juntou Gabriel Jesus e Aguero na frente, passou De Bruyne para pivô e Fernandinho para central, Walker passou a fazer o corredor direito com Sterling a ir mais vezes e mais cedo para dentro. City ganhou mais variabilidade na frente com mobilidade de toda a equipa e Sterling entre linhas. Virou o resultado numa segunda parte muito bem conseguida.

No sábado, e a ganhar 1-0, Sterling voltou a ir mais para dentro, e mais vezes com Walker a adiantar-se e Silva a ficar de frente para linha média adversária normalmente na meia-direita. É esta dinâmica que dá origem ao segundo golo, com a importância de De Bruyne a ir na profundidade para desfazer linha média adversária ao arrastar adversário para Aguero receber bola.

Na imagem, Silva de frente para linha média faz passe vertical para Aguero com De Bruyne a entrar na frente para arrastar adversário. Sterling por dentro irá finalizar após passe de primeira do argentino.




Obviamente que a distribuição não resolve tudo. Na segunda parte e apesar das mudanças até o Bournmouth alterar a estrutura e avançar a pressão, o City sentiu algumas dificuldades, sendo que aí, no meu entendimento mais por falha de precisão no momento de realizar o passe vertical ou por alguma pressa quando sentiam que o Bournmouth já se encontrava um pouco exposto, juntando a isto falta de movimento na frente para criar dúvida na linha defensiva contrária

O Manchester City tem revelado comportamentos de excelência contra equipas que pressionam alto e em bloco médio mas ainda não se conseguiu impor da mesma forma contra quem recua muito no terreno. Por exemplo, os laterais mais baixos revelaram-se uma excelente ideia para atrair pressão e jogar nas costas de quem pressiona (sendo o jogo com o Stoke talvez o expoente máximo) mas contra equipas que baixam tanto, creio que é um ponto a reflectir se faz sentido que assim continue a ser, retirando assim gente de zonas mais adiantadas do terreno (com laterais na linha do pivô, extremos terão de conferir largura ao ataque)

3 comentários:

  1. Eu acho que o objetivo do Pep é criar 1x1´s para os extremos(em zonas mais perto da baliza adversária) e depois cruzamentos atrasados ou rasteiro ou permitir ao KdB e ao Silva enquadrar entre linhas.

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  2. Também acredito que um dos objectivos seja criar o 1x1 para os extremos mas não acontece com frequência porque as linhas do adversário estão juntas e quem baixa muito o bloco não pressiona os laterais, pela excessiva rigidez da circulação acho que não existe engodo suficiente para aparecerem essas situações (ou até a entrada de Silva com Sané à largura). Quanto ao enquadramento entre linhas é complicado quando as linhas estão compactas e estão lá dois jogadores em permanência fazendo essencialmente a linha média baixar, o que confere espaço a quem fica de frente para o bloco. Se o objectivo passar por entrar aí, na minha modesta opinião, podem tentar atrair a linha média mais à frente colocando mais gente (a passar por lá, num entra e sai do bloco adversário ou a ficar) na zona do pivô. Para depois ter efectivo espaço para enquadrar aí, e/ou atrair a um corredor lateral para depois definir no meio

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    1. Mas eu penso que o City quer criar os tais 1x1 mas entrando sempre pelo meio, para atrair dentro e existir condições de desequilíbrio por fora e essa entrada pelo meio é maioritariamente com os interiores a enquadrarem

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