terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Play, possession and position - os conceitos de Guardiola

Na condição de comentador, e explorando as diferenças entre Van Gaal e Guardiola, Henry explica alguns conceitos do treinador espanhol que podem ser vistos aqui com legenda em inglês.

Henry começa por explicar as vantagens de permanecer parado ("stay in your position"), no seguimento refere a importância de alguns posicionamentos, não tanto para receber a bola, mas para provocar espaço no corredor central. Os extremos a começarem "largos e altos" fixam os laterais e permitem que exista espaço interior para jogar (algo visto este ano no Bayern Munique vs Bayer Leverkusen analisado aqui).

O que se pode concluir das palavras de Henry é a importância que Guardiola dá à disposição estrutural ou, se preferirmos, o ponto de partida dos seus jogadores em campo, mesmo que posteriormente exista liberdade para a mobilidade. No entanto, é esta disposição juntamente com os posicionamentos que têm como objectivo inicial fixar o adversário que permitem às suas equipas ter mais espaço para ter bola, e no limite, fixar-se no meio-campo contrário. Todas as semanas no Bayern Munique, e pela variabilidade dos jogadores que compõem o plantel a distribuição em campo muda de forma constante, Guardiola já disse que é diferente jogar com Robben, Ribery e Douglas Costa ou Lewandowski, Muller e Thiago.

Um aspecto que me parece importante referir é o critério do jogador que tem bola nas equipas de Guardiola. Com a largura a ser permanentemente ocupada e normalmente com jogadores rápidos seria normal que as suas equipas procurassem lançamentos em profundidade e espaços nas costas da defesa e combinações nos corredores laterais. Ainda que aconteçam com alguma frequência não é exactamente por isso que identificamos as suas equipas, Acredito que tal se deve, entre outros aspectos ao falso 9 que vem dar mais uma opção no meio, ao seguimento dado à bola pelo portador que retira linearidade e mais vezes que o habitual trava a progressão da bola no meio-campo contrário permitindo à equipa juntar-se e ficar bem dentro do meio-campo contrário. 

Aliás é precisamente esta temporização que, na minha opinião, permite que os jogadores aproximarem-se permitindo envolvimento. É que com dois extremos permanentemente à largura seria fácil o portador da bola ver limitados os apoios no corredor central/espaço interior. A variabilidade de movimentos dos extremos (liberdade total no último terço como referiu Henry) pode ser mais notória
à medida que a jogada se desenrola. 

Por fim, mas não menos importante, e que acaba por estar relacionado com o que foi escrito acima, a referência de Henry à criação de dúvida na defesa adversária (no caso com a inserção de Iniesta que forçou  o lateral direito a ter de fechar dentro ficando Villa com espaço para receber à largura). São movimentos como este que acabam por permitir a quem recebe bola ter mais tempo e espaço para executar em condições favoráveis para chegar mais frequentemente à baliza adversária

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Manchester United - Gestão da profundidade ofensiva e proximidade ao portador da bola II

Momento inicial do lance que daria o segundo golo do Norwich em Old Trafford. Bola no central do Manchester United, laterais pouco projectados em relação aos centrais com Carrick à frente da defesa e Mata entre linhas. Quatro jogadores da frente (Rooney, Fellaini e extremos) todos alinhados em profundidade e distantes à largura.


Snapshot 164



                                                                                 






Seguimento do lance com movimento típico do United onde alguém da frente recua (no caso Rooney) para o espaço deixado livre por jogador entre linhas que se afasta (Mata). Acontece que 3 jogadores estão estáticos/profundos na frente, o lateral do lado da bola não se adiantou e só Carrick pode vagamente ser solução, já que, mais ninguém reagiu ao passe para apoiar Rooney que acaba a receber bola de costas para baliza adversário e naturalmente pressionado, sem apoio próximo perde bola originando o contra-ataque do Norwich. 


Neste caso o adiantamento de 4 jogadores em zona precoce de construção mais a falta de apoio a quem recebe bola no corredor central e entre linhas não só dificultou a circulação de bola, como naturalmente expôs a equipa no momento da perda fazendo com que o Norwich conseguisse contra-atacar pelo corredor central. A questão não passa tanto pela disposição inicial (que até tem a vantagem de empurrar boa parte dos adversários para perto da sua área) mas sim o que é feito a partir daí. Somente com um jogador a recuar este fica numa posição desvantajosa e não tem alternativa se não jogar com os de trás, sendo que, os 3 da frente ficam fora do lance. 

Snapshot 165 Snapshot 166

Nota: As imagens são retiradas deste video, onde Jamie Carragher e Henry analisam o momento do Manchester United com o francês a explicar alguns conceitos de Guardiola. Vale a pena ver

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Bayer Leverkusen - Gestão da profundidade ofensiva e proximidade ao portador da bola




O Bayer Leverkusen do ponto de vista ofensivo é das equipas mais interessantes de seguir no futebol actual pela originalidade, e variabilidade, das ideias apresentadas. 

Contra o Borussia Monchegladbach, e aqui à que ter em conta o desgaste de uma equipa que vinha de jogos na mesma semana contra Bayern de Munique e Manchester City, o Leverkusen apresentou Kiessling e Chicharito na frente (algo pouco recorrente), com dois médios alas (Bellarabi e Çalhanoglu) e dois médios centro (Kampler e Kramer).

A diferença começa logo na saída a 3. Kampler junta-se à linha de centrais, mas recebe bola no corredor esquerdo, próximo da linha lateral com natural projecção de Wendell, também à largura. A estes junta-se Çalhanoglu, um dos avançados e não raras vezes Bellarabi, o que fazia com que facilmente 4/5 jogadores ficassem muito próximos à largura. Esta é uma das características do Bayer Leverkusen, tenta colocar sempre muita gente próxima do portador da bola. À esquerda mostraram algumas dificuldades em dar fluidez à circulação da bola, quando não procuraram corredor central, porque apesar dos constantes movimentos à profundidade por parte  de quem não tem bola, que permitia espaço para jogar e solução ao portador mais à frente, quem recebia bola em zonas no último terço, acabava por fazê-lo de frente para a linha lateral em situação muito complicada. Importante o posicionamento de Hilbert, lateral direito. Muito adiantado e muito por dentro (ainda que fora do bloco adversário) era principalmente a si que o jogo ia parar se o lado esquerdo estivesse fechado, tal como a Kramer. Ainda que nestas ocasiões o corredor central do Leverkusen, por motivos óbvios, não estivesse especialmente povoado

Quando o jogo passava para o corredor central/espaço interior o Bayer Leverkusen parecia melhorar. Kampler à esquerda quando procurou o meio conseguiu fazer com que o Leverkusen jogasse entre linhas. É que se a equipa tende a ficar próxima no corredor lateral, isso também acontece no corredor central, sendo até mais visível quando a opção dos de trás é jogar longo. Esta proximidade permite jogar dentro do bloco adversário. No jogo longo, um dos avançados disputava a bola mas contava com o apoio dos dois médios ala muito por dentro nestas situações, fazendo com que ganhassem a 2ª bola, a largura era dada posteriormente pelos laterais que subiam.

A mobilidade dos quatro da frente foi uma das marcas mais importantes neste jogo. O Leverkusen consegue jogar porque à proximidade constante a quem tem a bola, há em variados momentos quem ameace profundidade e ruptura nas costas da defesa adversária, o que naturalmente faz com que a linha de 3 do Borussia Momchegladbach esteja sempre em dúvida. Houve igualmente forte reacção ao jogo entre linhas, assim que a bola entrava no jogador da frente a restante alguém procurava aproximar para dar linha de passe (ver a combinação entre Kiessling e Chicharito no segundo golo), desta forma aqui a circulação de bola não perdeu fluidez entre linhas porque os apoios frontais estiveram quase sempre assegurados.

Nota final para a exibição de Chicharito. Alternou a profundidade com momentos em que baixou bastante para jogar ente linhas e não raras vezes jogou de frente para a linha defensiva adversária (4º golo), bem a decidir foi muito importante na variabilidade que a equipa apresentou